Aumento alarmante de mortes por hepatite expõe falhas no diagnóstico e tratamento

Aumento alarmante de mortes por hepatite expõe falhas no diagnóstico e tratamento

Hepatites Virais: Um Problema de Saúde Pública que Continua em Crescimento

O avanço no diagnóstico e tratamento das hepatites virais parece não ser suficiente para deter uma triste realidade: o número de mortes decorrentes dessas doenças vem aumentando globalmente. O Relatório Global sobre Hepatites de 2024, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), revela uma estatística alarmante: cerca de 3,5 mil vidas se perdem diariamente devido à hepatite B ou C. Essa cifra dramática coloca as hepatites virais como um grave desafio à saúde pública, que ainda afeta milhões de pessoas, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil.

De acordo com a pesquisa, realizada em 187 nações, as mortes atribuídas às hepatites virais cresceram de 1,1 milhão em 2019 para 1,3 milhão em 2022. A hepatite B respondeu por 83% dessas fatalidades, enquanto a hepatite C foi responsável por 17%. Um fator que contribui para essa tragédia é a estagnação nas taxas de testagem e tratamento, criando um cenário onde "muitas pessoas estão doentes, não sabem disso e, consequentemente, não se tratam", como alerta o gastroenterologista Rafael Oliveira Ximenes.

Por que a Testagem é Essencial na Luta Contra as Hepatites?

As hepatites virais, particularmente os tipos B e C, muitas vezes não apresentam sintomas em suas fases iniciais, o que dificulta a detecção precoce. É fundamental que os profissionais de saúde solicitem testes regulares aos pacientes, mas, infelizmente, essa prática ainda não é comum. "Infelizmente, aqui no Brasil também enfrentamos esse problema da baixa taxa de testagem", destaca Ximenes. Essa falta de iniciativa pode comprometer o diagnóstico precoce e o tratamento, que são cruciais para evitar complicações graves.

Além disso, a falta de informação sobre hepatites continua a ser uma barreira significativa. A conscientização é vital para que as pessoas possam exigir de seus médicos exames que podem salvar vidas. Professores, líderes comunitários e campanhas de saúde pública desempenham um papel importante na educação da população sobre os riscos e a prevenção das hepatites.

Qual a Faixa Etária Mais Afetada pelas Hepatites?

Os dados da OMS de 2022 mostram que 254 milhões de pessoas vivem com hepatite B, enquanto 50 milhões têm hepatite C. Aproximadamente 50% dessas infecções crônicas ocorrem em pessoas entre 30 e 54 anos, um período considerado crucial para a vida produtiva. Estadualmente, essa tendência se repete. No Brasil, as estatísticas reveladas pelo Boletim de Hepatites Virais de 2023 indicam que 46,5% dos casos de hepatite B estão entre indivíduos de 30 a 49 anos, e 23,3% dos casos de hepatite C estão em pessoas com mais de 60 anos.

Embora haja uma leve redução nos casos, os números ainda são alarmantes. Entre 2000 e 2022, foram registrados 276.646 diagnósticos de hepatite B e 298.738 de hepatite C. Contudo, menos de 13% das pessoas com hepatite B em estágio crônico foram diagnosticadas e apenas 3% receberam tratamento antiviral até o final de 2022. Em relação à hepatite C, os números são apenas um pouco melhores, com 36% diagnosticados e 20% em tratamento. Isso evidencia a necessidade urgente de atingir as metas globais da OMS de cobertura de 80% até 2030.

Como a Hepatite é Transmitida e Como Podemos Evitar?

A hepatite se refere à inflamação do fígado e, quando falamos de hepatites virais, nos referimos a aquelas causadas por vírus. Existem cinco tipos principais: A, B, C, D e E, sendo B e C as formas mais graves, que podem se tornar crônicas. A hepatite B é frequentemente transmitida sexualmente, enquanto a hepatite C se espalha principalmente através do contato com sangue contaminado.

Os sintomas da hepatite podem ser sutis nos estágios iniciais, incluindo perda de apetite, náuseas e febre. No entanto, podem evoluir para icterícia, cirrose e até câncer de fígado em estágios mais avançados. É vital que novos casos sejam diagnosticados rapidamente. Assim, o tratamento pode ser iniciado antes que a situação se torne irreversível.

Nos casos de hepatite B, a vacinação é uma chave para a prevenção. A vacina foi introduzida no calendário nacional em 1998 e deve ser administrada a todos os bebês ao nascer. Já em relação à hepatite C, a situação é mais complicada, pois ainda não há vacina. O foco deve ser em identificar rapidamente os casos novos para evitar o avanço da doença.

Essas questões não afetam apenas a saúde individual, mas também têm um impacto profundo nas comunidades e sistemas de saúde. Diagnosticá-las cedo pode ser a diferença entre um tratamento bem-sucedido e condições graves e potencialmente fatais.

A luta contra as hepatites virais é um desafio que requer uma abordagem comunitária, com educação e testagem sendo os melhores aliados na prevenção e tratamento. Ao tomar consciência e exigir cuidados médicos adequados, podemos não apenas salvar vidas, mas também reduzir a carga que essas doenças impõem sobre o sistema de saúde.

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