Na última quinta-feira (8), o ex-presidente Donald Trump, candidato republicano, afirmou que os presidentes dos EUA devem ter voz nas decisões do Federal Reserve (Fed). Essa declaração sugere uma possível mudança na independência do banco central, caso ele volte à presidência. Em conversa com repórteres em sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida, Trump declarou: “Eu sinto que o presidente deve ter pelo menos voz nisso”.
Trump continuou, destacando seu próprio sucesso financeiro: “Eu acho que no meu caso, eu ganhei muito dinheiro, eu tive muito sucesso, e eu acho que tenho um instinto melhor do que em muitos casos, [do que] pessoas que estariam no Federal Reserve ou o presidente.”
Este posicionamento parece alinhado com propostas desenvolvidas por aliados de Trump, que visam modificar a autonomia do Fed se ele vencer as eleições, conforme indicado por uma publicação de abril. Os comentários mais recentes de Trump reforçam a ideia de que, se eleito, ele deveria ser consultado sobre decisões relacionadas às taxas de juros e que as regulamentações bancárias do Fed poderiam ser revisadas pela Casa Branca.
Atualmente, o presidente do Fed e os demais membros do conselho de governadores são escolhidos pelo presidente dos EUA e precisam da aprovação do Senado. Embora o Fed tenha considerável autonomia para definir políticas que impactam profundamente a economia americana e os mercados financeiros globais, sua independência é mantida, em parte, pela capacidade de implementar políticas monetárias sem interferência política.
Esse status é fundamental para a posição do dólar americano como moeda de reserva mundial, permitindo aos EUA acessos a empréstimos a juros baixos, mesmo com uma dívida de US$ 35 trilhões, frequentemente referida como “privilégio exorbitante”.
O próximo presidente, seja Trump ou a democrata Kamala Harris, terá a oportunidade de indicar o próximo presidente do Fed nos primeiros dois anos de mandato. Se um indicado favorável a Trump for escolhido, isso poderia comprometer a independência do banco central.
Economistas expressam preocupação de que essa interferência possa ocasionar erros políticos significativos, reminiscente da pressão sofrida pelo presidente do Fed, Arthur Burns, nos anos 1970. Naquela época, Burns foi pressionado pelo presidente Nixon a manter uma política monetária expansionista, levando a uma inflação de mais de 12% em 1974 e a crises econômicas que perduraram na década seguinte.
O atual presidente do Fed, Jerome Powell, cujo mandato termina em 2026, foi inicialmente nomeado por Barack Obama, mas sua liderança foi escolhida por Trump em 2018. Apesar disso, Trump passou a criticar Powell logo em seguida, especialmente em relação ao aumento das taxas de juros. “Eu costumava discutir com ele, discuti com ele algumas vezes com muita veemência”, comentou Trump.
Embora tenha considerado demitir Powell, Trump acabou percebendo que não tinha esse poder. Ao contrário, a administração de Joe Biden se absteve de ameaçar potenciais mudanças na liderança do Fed. Em recente entrevista, Trump afirmou que, se voltar à presidência, não tentaria remover Powell do cargo.