Os atletas ucranianos nas Olimpíadas de Paris demonstraram nos últimos dias a profunda conexão entre o esporte e a situação de seu país em meio à guerra: “Ganhamos medalhas para nosso povo, nossos defensores.”
A esgrimista Olga Kharlan, uma das principais medalhistas da Ucrânia, expressou sua satisfação ao subir ao pódio: “Estou muito feliz por ter hasteado uma bandeira para o nosso exército hoje.” Ela destacou o impacto emocional da situação no seu país:
Sabemos que nossos meninos e meninas estão dando a vida no front e isso nos motiva.”
Essas declarações, que poderiam gerar controvérsia em outras edições, foram proferidas em Paris por uma delegação ucraniana de 142 atletas que competem em 25 modalidades, apesar da invasão russa que já dura mais de dois anos.
Até o dia 6 de agosto, a Ucrânia havia garantido um total de sete medalhas — duas de ouro, duas de prata e três de bronze — somando momentos marcantes nos Jogos Olímpicos. No evento do salto em altura, as atletas Iaroslava Mahukich e Irina Gerashchenko conquistaram, respectivamente, o ouro e o bronze, sendo aplaudidas pelo público ao exibirem as bandeiras ucranianas em um estágio repleto.
Mahukich, que estabeleceu um novo recorde mundial há apenas um mês em Paris, argumentou que as medalhas oferecem um palco para que os ucranianos compartilhem sua luta: “Queremos a paz, mas infelizmente isso não é possível, nem durante os Jogos. A Rússia lançou um monte de foguetes na minha cidade [Dnipro]. É nos estádios que estamos lutando.”
Com a guerra forçando muitos a emigrarem para treinar, mais de cem atletas olímpicos e paralímpicos se prepararam em um centro de alto rendimento na região metropolitana de Paris, com apoio do governo francês, que investiu cerca de 1 milhão de euros nesse esforço.
O atleta Mikhailo Kokhan, que conquistou o bronze no lançamento do martelo, treina na Turquia e revelou a dificuldade emocional de viver em meio ao conflito: “É duro pensar todo dia nos parentes e amigos, porque a guerra continua. Um monte de mísseis, de sirenes antiaéreas. Não dá para viver. As pessoas só têm eletricidade quatro horas por dia.”
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, parabenizou os atletas por suas conquistas: “Obrigado [aos atletas] pelo resultado. Os ucranianos sabem como ser fortes e vencer.” Ele optou por não comparecer à cerimônia de abertura, enfatizando que, embora os Jogos sejam uma festa, seu país enfrenta um momento difícil: “O fato de participarmos em tempo de guerra já é uma vitória.”
Recentemente, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, fez uma homenagem à delegação ucraniana, observando um minuto de silêncio em respeito aos mais de 400 atletas e treinadores mortos no conflito.
Entre os atletas, muitos vêm de zonas de conflito, como o ginasta Radomir Stelmakh, que treina na Alemanha e expressou a angústia de ter familiares vivendo sob ameaças constantes: “É mentalmente difícil, porque você sabe que seus pais moram lá e sabe que eles não estão seguros.”
A Rússia e Belarus foram banidas dos Jogos devido à invasão da Ucrânia, embora alguns atletas desses países tenham sido autorizados a competir sob a bandeira de “Atletas Individuais Neutros.” Esta situação gera desconforto entre os competidores ucranianos, como observou Mark Hritsenko, dos saltos ornamentais: “Nunca mais será possível competir ao lado de atletas da Rússia. Os russos nos impedem de treinar.”
Desde sua independência em 1991, a Ucrânia tem se destacado nos Jogos Olímpicos, contabilizando 139 medalhas em sete edições, sendo 35 delas de ouro, desempenho ligeiramente superior ao do Brasil, que conquistou 111 medalhas e 28 de ouro no mesmo período.
Os maiores sucessos ucranianos são na ginástica, com sete ouros, e no atletismo, com 21 medalhas. A nadadora Iana Klochkova detém o recorde de quatro medalhas de ouro, conquistadas nas edições de 2000 e 2004.